Kimchi : onde Lucrécia mostra que não se confunde com Maria Antonieta

 



Não se pense que esta blogger, apesar do nome aristocrático, passa o seu tempo nos takeaways desta vida, desconhecendo as dificuldades do comum mortal. Não, caro (a) leitor (a), a mim não me ouvirão a sugerir brioche quando não haja pão em casa, como sucedeu àquela senhora francesa que à conta dessa tirada humorística involuntária ficou sem a cabeça no pós-1789.

Provando exactamente o contrário vou deixar aqui uma receita para aproveitamentos, com inspiração asiática: arroz frito.

          Uma nota técnica prévia: o que são aproveitamentos? Ora, tudo aquilo que está no frigorífico ao final da semana e que, sozinho, não serve para nada. Mas, em conjunto, pode permitir chegarmos a um jantar de domingo muito saboroso e até com um ligeiro toque de exotismo. Para tanto, contamos com um pequeno ingrediente não tão secreto: o kimchi. Segundo apontamento técnico: qu'est que c'est ça, como perguntariam os franceses?   


Esta Lucrécia não é Marie Antoinette
(aqui em dias mais felizes, retratada por Vigée Lebrun)
e kimchi não é brioche.


O termo é de origem coreana e deriva da palavra shimchae (literalmente “vegetais salgados”). É este o nome dado a um conjunto de condimentos típicos da culinária da Coreia, incluindo o repolho e outras hortaliças. É muitas vezes considerado como a base da alimentação dos coreanos, que os consomem em todas as refeições. Na prática, trata-se de um preparado em que se colocam os vegetais em salmoura durante várias horas. De seguida, os vegetais são envolvidos numa pasta feita com farinha de arroz, açúcar e diversos temperos. Embora possam ser consumidos de imediato, por regra são deixadas a fermentar, servindo de acompanhamento a outros pratos.

O kimchi (há várias receitas que ensinam como o fazer em casa, mas aqueles que como eu têm um espírito mais prático, podem também comprá-lo em vários supermercados) pode ser consumido sem mais, como uma espécie de acompanhamento ou usado de modo mais elaborado, dando um certo ar exótico a uma coisinha que podia ser desenxabida, como um aproveitamento dominical (ouço Morrisey a cantar everyday is like sunday enquanto escrevo este texto).

Saibam também, estimados palatos que me acompanham, que ao escolherem o kimchi para alindarem a vossa refeição estão a piscar o olho à Unesco que já reconheceu a mais-valia deste prato milenar, integrando-o na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2013 na versão Kimjiang (da Coreia do Sul), aguardando-se a entrada também da receita norte-coreana. De uma forma ou de outra, os benefícios do kimchi são irrefutáveis: poucas calorias e muitas vitaminas.

E dito isto, deixo a minha receita de arroz frito com kimchi em que é tudo a olho, ou, se preferirem, a gosto:

           Ingredientes (isto é, sobras que vamos utilizar de forma exótica).

- Arroz;

- Favas, cogumelos, grão e cenoura, que sobraram de outras refeições da semana.

- Tofu (que também tenho no frigorífico a gritar para ser usado).

- Kimchi a gosto (retirado previamente do frasquinho, deixando escorrer a parte líquida, partindo a porção sólida que vamos usar em bocadinhos).

Modo de preparação:

Numa frigideira coloca-se azeite, cebola, alho, pimenta vermelha e gengibre (tudo a gosto, mas cuidado com os excessos de entusiasmo, pois o kimchi já é salgado). Quando a mistura estiver aquecida colocamos o arroz e os vegetais que indiquei acima. Deixamos alourar e depois colocamos o kimchi, envolvendo-o com os demais alimentos.

         Tirar da frigideira e colocar no pratinho para comer.

Simples, não é? Simples e saboroso, é o meu binómio favorito quando estou na cozinha, meus caros.

Para a sobremesa atrevo-me a deixar uma sugestão de leitura que me ocorreu: o relato da viagem de Michel Palin por terras norte-coreanas, editada entre nós pela Bizâncio. A diplomacia do escritor inglês não obsta a que se perceba logo que Pyongyang não é sítio para onde se viaje de ânimo leve. Apesar da simpatia dos autóctones, por ora, será melhor ficar deste lado da fronteira e desfrutarmos do nosso kimchi em liberdade. Tem outro sabor, estou em crer. 

 

 

 

Comentários

  1. Nunca experimentei, mas parece-me muito bem 😊

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  2. Obrigada pela visita e comentários Ana! A Lucrécia também aguarda oportunidade de experimentar as suas iguarias!

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