Senhoras e Senhores, para vossa fruição e meu deleite, um encontro com o hamburguer do Kong
Espírito
de contradição. Uma das minhas mais bonitas qualidades. Por isso, onde alguns
gritam fast food eu respondo slow, very slow eating. Não acredito
em almoços volantes, gosto de desfrutar da minha hora de almoço. Com calma, boa
comida e, se possível, boa companhia. Mesmo que seja um hambúrguer. Falo nisto
porque esta criação , que surgiu entre os séculos XVIII e XIX, é
mundialmente identificada com a necessidade de alimentar as massas trabalhadoras.
E rápido, para que possam ocupar o seu lugar no circuito produtivo ou de
consumo. Comei rápido e ide trabalhar ou comei rápido e ide comprar. Comer é acessório. O fundamental é ganhar dinheiro ou gastá-lo. Nada mais contrário à ordem natural do mundo, meus amigos!
É possível devorar num ápice o hambúrguer do Kong. Mas não é aconselhável. Não porque seja
indigesto ou coisa que o valha, mas porque este é um prato que merece que nos
detenhamos nele. E que reconheçamos as suas variações de sabor, deixando que o nosso
palato delas desfrute. As coisas boas levam tempo e merecem o nosso tempo.
O
Kong – Food made with compassion é um restaurante situado
no coração de Lisboa, na Rua do Crucifixo. A especialidade é a comida vegan, isto é, sem
qualquer elemento de natureza animal. Os pratos apresentados têm nomes que se aproximam dos
omnívoros, mas afastam-se deles decisivamente por conta desse pequeno grande detalhe. Durante o primeiro confinamento
(onde é que isso já não vai!) dei por mim a salivar pensando no seu bife de seitan
com molho à café e batatas fritas seguido da mousse de Oreo. Prometi a mim
mesma que seria a minha primeira refeição em liberdade. E assim foi! Em boa
companhia, num sábado quente sentei-me na esplanada improvisada à porta do
restaurante e comi exactamente aquela refeição, com todo o deleite que
antecipava e que não foi traído. Pelo contrário, sai de barriguinha cheia e
pronta para voltar uma e outra vez. E voltei! O restaurante é pequeno e convém
marcar mesa. Nunca negligenciei este detalhe e ainda bem porque o espaço está
sempre cheio e eu detesto desilusões, incluindo gastronómicas. Comi o peixe “fingido”
com arroz e tomate e salada, o fish and chips e a francesinha. Tudo sob
o olhar tutelar do grande Kong impassível na sua pose na sala de refeições,
habituado que está às objectivas dos clientes nacionais e estrangeiros. Todas
as refeições tiveram a companhia de omnívoros e todos me perguntam “quando
voltamos ao Kong?”
Pois,
o que eu gostava de lhes poder responder… Todavia, se Maomé não vai à montanha,
a montanha vai a Maomé. Que é como quem diz se Lucrécia não vai ao Kong, vai o
Kong ao palácio da Lucrécia. Assim sendo, no passado fim-de-semana encomendei o
hambúrguer com batatas fritas, bem como uns croquetezinhos de alheira e queijo.
Se os nomes dos pratos são figurados, já o seu sabor é bem real e soube-me pela
vida! O hambúrguer é caseiro feito com feijão preto e tofu. Leva queijo vegan e
cebolas caramelizadas, sendo acompanhado por batatas fritas. Podia dizer que as
batatas fritas são o meu guilty pleasure, mas não acredito no conceito, por
isso não vou por aí. Todos os povos têm o seu momento de glória e para os
belgas foi a invenção das batatas fritas que acompanham as moules. Um
facto histórico documentado nessa grande obra que é Astérix entre os Belgas.
Pena foi que os soldados norte-americanos que libertaram Paris as tenham
baptizado como french fries. Mas isso fica para outro dia.
Voltemos ao meu encontro com o hambúrguer e batatinhas fritas. Comi devagar,
saboreando cada dentada e, diga-se, também os três croquetezinhos marcharam com
o molho barbecue. Recebo uma mensagem de uma amiga a quem recomendei que
encomendasse o almoço no mesmo sítio para toda a família. Todos carnívoros, todos satisfeitos e
desejosos de repetir os pratinhos do Kong. Não vivo para agradar, mas também
nada tenho contra proporcionar momentos de alegria aos meus amigos.
Por
mim, verifico um erro: não encomendei sobremesa. Um lapso indesculpável e pelo
qual me penitencio. Opções, já testadas, não faltavam. A mousse de Oreo (já a
mencionei, não já?) ou o alfajor (doce de inspiração argentina). Ou podia optar
pelo cheesecake da semana. Como me pode ter falhado este detalhe? Apenas me ocorre
uma forma de redenção: emendar a mão muito em breve e vir aqui contar-vos como
foi. Como disse alguém que conhecemos I'll be back!
Amei o texto! Quanto ao Kong...terei de lá ir, ficou uma enorme vontade de o fazer ❤️.
ResponderEliminarVai gostar de certeza Ana! Obrigada pela visita.
EliminarTenho de acrescentar o Kong à minha lista de experiências gastronómicas pós-confinamento! Mas terá outro sabor se for na companhia certa 😊
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