Tamagoshi

 



Não sei quando é que o sushi se tornou moda pois confesso, não sou muito atento, nem a estas, nem às suas mudanças, mas seja como for, se puxar pela cabeça sou capaz de me lembrar de algumas imagens em que o sushi, de uma forma ou de outra surge, ora como figura principal ora de modo acessório, mas sempre lá, a marcar a sua presença.

Todos se recordam do “Desesperadamente procurando Susana” com Madonna no papel principal a presentear-nos com um filme que, de tão mau que era se tornou bom, assim como da cena em que o rapaz que a procurava, após salvar uma rapariga que usava o blusão de Susan, a convidou para um restaurante de Sushi. Da parte que me toca sou a crer que foi a primeira vez que ouvi falar de sushi, algures nos princípios dos anos oitenta.

Mais tarde, no final dos anos noventa, encontrei-me em Londres na companhia de um italiano, um russo e de uma holandesa (parece uma anedota, mas não é). Nenhum dos rapazes tinha provado sushi e apenas a holandesa (a mais sofisticada de todos) o tinha feito conhecendo um restaurante em Poland Street onde nos levou. O mesmo tinha mesas estrategicamente colocadas ao longo do seu espaço, por onde circulava uma passadeira rolante com diversos pratos de sushi nela colocados. Tal passadeira movimentava-se junto de cada mesa onde, por sua vez, quem nelas se encontrava poderia retirar os pratos que assim entendesse. Em simultâneo, um robô munido com um sensor deambulava pelo restaurante com uma bandeja de bebidas. Para quem quisesse servir-se, bastava colocar a sua mão em frente ao mesmo para que este parasse e aí, poderia retirar as bebidas que entendesse por conveniente consumir. Tudo isto ao som de música tecno (horrível). Caso tudo corresse mal, poder-se-ia sempre premir um botão colocado no centro da mesa com a palavra “help” nele inscrito. Não fosse o diabo tecê-las.

Por sua vez, a ler Murakami no seu “Kafka à beira mar”, tropecei numa nota de rodapé sobre a sopa miso e a qual rezava da seguinte forma: “Oriunda da China e consumida diariamente pelos japoneses, esta pasta de soja fermentada, que dá pelo nome de miso shiro, é considerada uma das bases da cozinha oriental”. A obra é pródiga em notas de rodapé, tão deliciosas como a sopa miso.

Por fim, não poderia deixar de dizer que me converti ao sushi e que o encomendo semanalmente a um restaurante com um nome péssimo – Tamagoshi – o qual é inversamente proporcional à qualidade do produto que confeciona (dito desta forma até parece droga, mas não é). É gerido por um senhor brasileiro chamado Péricles, o mesmo nome que o de o politico grego defensor da democracia.

Tal como a visualização de “Desesperadamente procurando Susana” ou, para os mais eruditos, a leitura de Murakami, o local merece uma visita pois Péricles, tal como o nome indica, é um estratega (do sushi e não da politica, claro) e, como tal, levar-vos-á a recordar as suas habilidades com saudades.

Saudades tão grandes como as das mulheres dos gregos que se bateram por Helena.

Experimentem.  

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