O dilema de Lecter (sim, o Hannibal).

A personagem representada por Anthony Hopkins comporta em si mesmo um paradoxo uma vez que é inteligente, culto, viajado (nem que fosse por fugir à polícia …), educado, tem boas maneiras (à mesa inclusive …) e sedutor. É uma daquelas pessoas que seriam facilmente incluída num grupo que quiséssemos ter em casa durante uma refeição não fosse ele canibal. Sinto genuína pena pelos hábitos alimentares do senhor pois, entre ele e muitas pessoas com as quais já me sentei à mesa estou certo que que a conversa seria bem mais interessante com Hannibal Lecter mas enfim, não se pode ter tudo. A vida é assim mesmo. Injusta.

Seja como for, o meu conceito de jantar em boa companhia não inclui canibalismo, mas pode incluir, sem qualquer preconceito, favas e um bom Chianti mas não se assustem, na receita destas não se incluem outros ingredientes com que Hannibal Lecter se deliciou no “Silêncio dos Inocentes”, nomeadamente o fígado de uma das suas vítimas.    

Correndo seriamente o risco de transmitir uma imagem de alguém que só aprecia comidas brutas e alarves, próprias para alimentar um homem das obras em intervalo de laboração, arrisco-me a falar de favas e do Anthony Hopkins pois, sou a crer que este é bem mais carismático do que José Cid quando canta “Dá-me favas com chouriço”.

Sim, favas uma vez que Hannibal Lecter gosta de favas (e de outras coisas também …), podendo as minhas favas predilectas ser acompanhadas por enchidos vários com especial realce para farinheira a qual, durante o processo de confecção, deixa um sabor inesquecível às mesmas. Coloque-se malaguetas a gosto e estão reunidos os elementos da perfeição pois estou certo que se Hannibal Lecter as provasse deixaria de ser canibal por umas horas presenteando-nos apenas com o seu lado bom e se dúvidas houvesse, servir-lho-ia com um tinto português ao invés de Chianti.

Talvez touriga nacional, touriga franca e tinta roriz, uma vez que o vinho português deixaria assim Hannibal Lecter, certamente, sentir aquilo a que se chama o efeito redentor de uma boa pratada de favas.