Os Tibetanos em Lisboa
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Ting Momo, pão tibetano |
Aproveitemos o desconfinamento esperando que tenha vindo para durar. Pela minha parte, em vez de me enfiar numa esplanada apinhada de gente da qual não tenho saudades, prefiro retornar aos meus espaços de eleição. Um deles é o restaurante OsTibetanos, a que voltei com a alegria de quem regressa aos locais onde foi feliz e sabe que voltará a ser. O espaço é muito conhecido, mas não é por isso que não merece ser, mais uma vez, elogiado.
Apresenta-se
como o mais antigo restaurante vegetariano do nosso país, estando de portas
abertas ininterruptamente desde 1978. As refeições começaram, contudo, a ser
servidas de modo informal em 1975. Hoje é um ponto de passagem obrigatório para
vegetarianos e um lugar que concita a simpatia dos omnívoros. Os motivos são
vários: a decoração que nos remete para um cenário oriental e proporciona
momentos de tranquilidade, a esplanada acolhedora, a música relaxante. A calma
imperturbável de quem lá trabalha e, last but not least como dizem os
ingleses, a comida. A inspiração para a carta é colhida em vários pontos do
mundo: Índia, Brasil, Japão e também, está bom de ver, Tibete. Este território envolvido em mistério é a origem dos momos que
podem ver nas fotografias. Pergunto-me se o Padre António de Andrade, jesuíta português que revelou este território ao Ocidente, quando por lá andou em 1624, terá já experimentado esta iguaria. A crer no relato que nos deixou, não passou fome: "(...) quase todos os dias tínhamos presentes do rei e da rainha daquelas coisas que havia na terra, a saber, carneiros, arroz, farinha, manteiga, jagra, passas e vinhos de uvas em grande abundância, de maneira que não só bastava para os da casa, mas dávamos contínuas esmolas, abrangendo a muitas caridades." Com as gentes do Tibete também o nosso conterrâneo ficou bem impressionado. Assim escreveu ao rei "(...) A gente pela maior parte é bem afeiçoada, valorosa, dada a guerras em que de contínuo anda exercitada e sobretudo muito pia e dada ás coisas de Nosso Senhor; rezam certas orações orações, principalmente nas madrugadas (...)". Pode haver algum exagero na referência ao deus cristão, mas quem nunca se entusiasmou a escrever um postal para a família que atire a primeira pedra. De momos é que não há sinal na cartinha enviada ao monarca espanhol que nos governava então, pois em 1624, como se recordarão, tínhamos nuestros hermanos como babysitters à força.
Mas o que são os momos então?
A resposta é singela. São umas trouxinhas de massa, que podem ser fritas ou ao vapor, e que cada um pode preencher de acordo com o seu apetite e gosto, No Tibete são consumidos nas mais diversas ocasiões, lanches, petisco e durante as refeições, recheados com carne, legumes ou fruta. No restaurante de que falamos, o recheio é vegetal. Ou, se estivermos a pensar na entrada, é apenas um pão frito, cuja delícia de sabor tem um qualquer segredo que não faço questão de conhecer, mas apenas de continuar a saborear.
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Momos recheados |
Mas, na minha modesta opinião, o que
é mesmo imperdível neste restaurante são as sobremesas: tarte de requeijão e
papaia, tarte de menta e chocolate e a tarte dolma que muitos juram ser a
melhor do mundo.
No
edifício onde fica o restaurante é ainda possível encontrar um centro de
meditação e ioga e, no último andar, um templo budista. Aqui a influência é apenas e tão só tibetana.
Pela excelência da comida, serviço
simpático e localização privilegiada este espaço é responsável por conversões
ao vegetarianismo ou aberturas da mente de omnívoros que aqui foram percebendo
que os vegetarianos não comem só saladas (embora também as haja no menu e bem
boas, diga-se).
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