O dia em que Gungunhana tomou a Bastilha.
Não
participei na tomada da mesma muito embora sinta, por vezes, que tenho idade
mental suficiente para nela ter entrado.
Quanto
à Bastilha, a qual naturalmente já não existe, apenas conheço o bairro em Paris
onde, depois de passar o dia a fugir dos coletes amarelos encontrei um café
parisiense com uma bonita esplanada. Depois de uma avaliação sumária concluí
que seria um bom local para descontrair depois da confusão. Porém, não fosse o
diabo tecê-las, optei pelo seu interior ao invés da esplanada.
Desloquei-me
à casa de banho e quando saí percebi que estava a viver a tomada da Bastilha
versão café do René do Allô Allô ou seja, um bando de "sans culotte"
devidamente equipados com os seus coletes amarelos viraram a esplanada ao
contrário e ainda tentaram fazer uma investida café adentro não fosse a pronta
intervenção dos seus empregados que estavam dispostos a defender o seu
território nem que fosse à cadeirada.
Limitei-me
a pensar "as coisas que acontecem enquanto um tipo vai à casa de
banho..." pois, sou a crer que se vivesse durante a revolução francesa o
mais provável era, com este sentido de oportunidade, e enquanto no "toilette", perder a possibilidade de assistir ao vivo à implantação da República francesa.
Enfim,
acabei no mesmo bairro da Bastilha a jantar num restaurante francês chamado “Chez
Paul” que me agradou pelo facto de estar cheio de franceses. Sentei-me e pedi
um prato chamado "as tentações de Santo Antão" assumindo erradamente
que seria uma espécie de cozido. O mesmo consistia numa porção generosa de
todas as partes estranhíssimas do porco a saber, nariz, rabo (cauda
entenda-se), orelha entre outras (não, não estavam lá os túbaros, escusam de
ficar com ideias), gentilmente servido com uma pequena batata e com uma couve
simbólica que apenas estavam por lá para dar ao prato um ar sensível e saudável
(o resultado foi o mesmo que colocar uma flor na tromba de um elefante só para
que este ficasse com um ar delicado …) tudo acompanhado com "vin
rouge" pois, para mim a tomada da Bastilha, ou a tomada seja lá do que for,
não se faz com o estômago vazio. Por fim, acabei à porta do restaurante, no
final da refeição, a trocar amigavelmente impressões com dois ingleses que
estavam extremamente entusiasmados com a pancadaria nas ruas e os quais, ao contrário
de mim, fugiam em direcção às mesmas. Enfim, gostos não se discutem.
Fica
a referência do restaurante no n.º 13 da Rue de Charonne em Paris e, caso
queiram, recomendo o seu site www.chezpaul.com/chez-paul-un-lieu-une-promesse/,
onde podem, através de um pequeno áudio, sentir o ambiente efervescente “d’un
véritable bistrot parisien” com a certeza também (Lucrécia not quite Bórgia
me perdoe) que após comer o que comi só me apeteceu cantar a canção que se
segue: https://www.youtube.com/watch?v=Q3Kvu6Kgp88
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