O Deus das Sopas.

 


Não faço ideia de como a sopa surgiu, mas gosto de imaginar algo como uma poção mágica de Asterix na qual, um druida (ou algo do género) colocava no caldeirão tudo o que encontrava na floresta e que, devido ao seu conhecimento empírico, considerava que tinha poderes mágicos.

Seja como for, a sopa sustenta tudo, quando o tudo acaba.

Desde a sopa de coentros, a qual nos embriaga com o seu perfume, desde o momento da sua confecção, até aquele momento em que a provamos pois, para quem gosta de perfume, aquele perfume dos coentros é inigualável.

Aliás, cortar coentros poderia ser incluído num rol de actividades relaxantes tais como pintar mandalas, de tal forma que o perfume que exala dos mesmos nos deixa satisfeitos com o seu sabor dominante.

No mais, e no que toca a sopas, recordo-me de um jantar no qual conheci um senhor com uma idade provecta e o qual tinha sido responsável por implementar uma fábrica de caldos de carne no Congo. Perante essa revelação questionei-o sobre a razão de ser de tal iniciativa pois, na minha cabeça, construir uma fábrica de caldos de carne algures no Congo fazia tanto sentido como uma guitarra num enterro.

O senhor em questão topou a minha perplexidade e antecipou-se à minha pergunta respondendo que, em certos países de África, uma embalagem de caldos de carne poderia valer ouro e servir de moeda de troca pois, não só a sua conservação durante longos períodos estava garantida, como o seu transporte era fácil e por fim, um desses caldos diluído num litro de água poderia matar a fome a quatro pessoas durante um dia.

Assim a sopa, neste caso, seria a poção mágica que salva vidas.

No mais, e numa lógica mais lúdica, sempre terei que reter a sopa da pedra de Almeirim, a sopa de peixe que coleciono na minha memória (provo uma cada vez que tenho oportunidade), a sopa de marisco servida num restaurante profundamente queque na zona da marginal de Cascais (aliás, o dono do restaurante é tão queque que quase faz perder a piada de comer a sua fabulosa sopa, de tão chato que se torna), entre outras sopas tais como a sopa castelhana que provei em Burgos, Espanha, e na qual “cacei” diversos enchidos no caldo da mesma e que, após esta, me fez sentir como “El Cid – o Campeador”, capaz de carregar em cima de um exército de mouros de tão forte que me sentia. Por fim, há que dizer que a sopa tem a capacidade de albergar tudo na mesma. Desde o picante, as aves (no caso da canja), e por fim, algumas extravagâncias tais como o gengibre que adoro. Tanto pelo seu perfume tão bom como aquele que os sentidos notam quando provamos a sopa de coentros.  

Enfim, a sopa continua viva. Sustentando tudo quando tudo acaba.  

Comentários

Mensagens populares