Os galegos são uns sortudos.

 


Os galegos são uns sortudos.

Pelo menos é o que aparentam pois, nem todos têm a sorte de nascer onde Santiago de Compostela se insere, mas não só. É a sorte de ter uma costa de sonho, nas rias baixas, com praias lindíssimas e, paredes meias, um cenário rural intenso onde o verde nos abraça. Seja como for, a minha primeira percepção dos galegos deveu-se ao meu pai o qual me levou, enquanto estudante, ao João do Grão na baixa de Lisboa com a justificação que este era um dos locais que frequentava na sua juventude. Achei profundamente “démodé” mas fiquei com a referência que o restaurante pertencia e era gerido por um galego. Por sua vez, percebi igualmente que um dos restaurantes de referência da linha de Cascais, o Don Pepe, também pertencia a um galego assim como muitos outros na zona de Lisboa. Por fim, a minha ligação a uma pessoa amiga fez-me saber que esta era filha de galegos em Lisboa, proprietários de um outro restaurante na Rua da Madalena, sentindo-se, como tal, galega e descrevendo que os seus pais não tiveram um único dia de férias ao longo da sua vida, ao contrário desta que se deslocava numa carrinha alugada para o efeito, nas férias de verão e na companhia de outros filhos de galegos em Lisboa, para passar as suas férias nas aldeias de origem na Galiza.

Estava escrito nas estrelas que teria de ir lá parar, mais tarde ou mais cedo, e assim foi. Primeiro em miúdo onde tomei conhecimento de alguns clichês tais como a tarte de Santiago (a qual faz tanta falta uma refeição como uma guitarra num enterro), assim como do queijo em forma de … bem … digamos … teta (lamento, mas não consigo dizer a coisa de maneira diferente). De resto, tirando a forma de teta (lamento, mas não resisti em escrever novamente a palavra teta, acho que dá um atrevido à narrativa, mas enfim… vou evitar fazê-lo de novo), é um queijo vulgar.

Regressei por mais duas vezes, ora numa carrinha em jeito “hippie” e na qual a gastronomia não era a nossa prioridade (tanto mais que a Galiza era para nós, o fim de viagem), quer sozinho numa tenda onde compreendi que, cada vez que pedia um copo de alvarinho o mesmo vinha acompanhado de algo para petiscar, em jeito de oferta.

Regressei por fim, no verão passado, onde percebi que fazer praia na Galiza poderia ser algo de fabuloso e sobretudo quando, no final do dia terminava na esplanada de um restaurante modesto de seu nome “Cruceiro”. A senhora que o explorava tinha cara de pessoa que poderia resolver muitos problemas a soco, mas gostou francamente de nós que pedíamos sardinhas, pulpo a la feira, zamburrinhas, pimentos padrão, e navalhas, tudo regado a Burgans, alvarinho das rias baixas.    

Para tal era necessário escrever, previamente, o nosso nome num caderninho colocado estrategicamente no interior do mesmo e aguardar no exterior, situação que, porém, não incomodava, pois, estar na rua em Pontevedra é como ouvir a canção dos Dire Straits que refere, a dado momento, qualquer coisa como “you look so pretty to me … like the spanish city to me”. Permite-nos esperar o tempo que for necessário pois, sabemos que a Galiza também espera. Pacientemente. E por nós.

https://www.facebook.com/restaurantecruceiro

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