O sítio do costume (não, não é esse em que estão a pensar)
Há quem diga que a amizade
é o grande sentimento do século XXI e não o amor, entendido este como o romântico. Talvez sim, talvez não. Mas uma coisa é certa: desde que o
mundo é mundo ter um amigo é precioso. E para confirmarmos isso basta vermos como serviu de inspiração a filósofos (como Aristóteles ou Voltaire), romancistas (o nosso Eça, por
exemplo, com os seus João da Ega e Carlos Eduardo) e músicos (Friends, will befriends ou numa linha mais melancólica That’s what friends are for ou WindBeneath my wings). Com os amigos acontece-nos como os amores. Temos a nossa canção,
as nossas pequenas piadas privadas, o olhar cruzado com a pergunta muda “viste?” e… os
nossos lugares. Incluindo, os nossos restaurantes.
Com
a chegada à outra margem pós-pandémica regressei com uma grande amiga ao nosso
lugar: a Brasserie de L’Entrecôte. Ali nos reencontrámos após meses de vídeo-chamadas,
telefonemas e encontros fugazes em esplanadas, com máscara e
álcool gel. Sentámo-nos na nossa mesa e aguardamos a nossa refeição. Na Brasserie
não se perde tempo a olhar para o menu. Há duas entradas, um prato principal (em rigor, como verão, dois) e uma mão cheia de sobremesas. E isso é perfeito, porque nos podemos
concentrar no que é mesmo importante: a pessoa que está connosco.
Perguntarão
alguns: Lucrécia, abriste uma excepção e comeste carne?
A resposta é não. Há princípios de que não abdico, não comer animais é um deles. Nem mesmo por uma grande, grande, enorme amiga. Sucede que os senhores e senhoras da Brasserie tiveram a ideia (brilhante) de perceber que nosostros os vegetarianos a) gostamos de comer bem b) temos amigos que querem continuar a tomar refeições connosco nos nossos sítios (ainda que vibrem, diga-se, com uma deslocação a um restaurante vegan). E, se assim o pensaram, melhor o fizeram, integrando na sua pequena e preciosa ementa os bonitos bifinhos de seitan, com o molho icónico e paradisíaco que tornou o restaurante famoso.
Para acompanhar, as melhores
batatas fritas da cidade de Lisboa. A abrir as hostilidades uma saladinha de
alface fresca com nozes e, para fecho de emissão, um estonteante bolo de
chocolate. Tudo contextualizado com uma
conversa que não tem fim, entre partilha de episódios burlescos e trágico-cómicos,
futuros projectos comuns, análise de propostas de casamento e ponderação e apresentação
de soluções para os principais problemas que afligem a Humanidade. Já sei:
também fazem tudo isto com os vossos amigos. Óptimo!, Mas garanto-vos que a
minha amiga tem as melhores soluções para salvar o mundo …
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