Antes que o Verão acabe


Verão que é Verão tem de ter Bolas de Berlim na praia, de preferência. É lá que elas sabem melhor, e digam o que disserem, uma Bola de Berlim comida numa pastelaria não tem o mesmo sabor! Não tem. É inegável.

Qual é a piada de chegar ao balcão e pedir uma? Nenhuma!

Já na praia corre-se atrás do homem das bolas, caso ele passe por nós e, sem que nos veja a acenar freneticamente os braços, fuja do nosso alcance. É que o treino de percorrer o areal para lá e para cá faz com que atinja uma velocidade parecida à das crianças quando começam a andar e a correr. Ninguém lhes consegue deitar a mão.

Outras vezes ficamos à coca que ele apareça entre os muitos corpos estendidos ao sol. 

O homem das Bolas de Berlim é uma figura típica das nossas praias e faz-se anunciar das mais diversas formas: com pregões mais ou menos engraçados, com sinetas ou buzinas (para não gastar a voz) ou com frases incompreensíveis a qualquer ouvido humano que apenas são reconhecidas pela forma como são entoadas.

Olhá-re-lim-re-lim!

Que-crém-ô-se-crém!

Óóóó...-linhas!

Há, ainda, os que se esmeram e se vestem a rigor. Não, não andam vestidos de Bola de Berlim, que desse modo sufocavam ao fim de dez metros. Vestem t-shirts e bonés com o nome, mais ou menos conceituado, da pastelaria que as fabrica. De Caminha a Vila Real de Santo António não há praia que escape. Das do Natário em Viana, às do Carlos na Fuzeta é todo um mundo de sabores por explorar.

Apesar de uma tentativa frustrada de impedirem a venda de Bolas com creme na praia, a verdade é que nos últimos anos têm surgido sabores e recheios novos. Ele há Bolas de alfarroba, de beterraba e até de spirulina!!! Spirulina? Sim, spirulina! E os recheios? Maçã e canela, chocolate branco, creme de cacau, caramelo salgado, ...

Por que razão terão ido mexer em algo que era bom? Se é bom, que assim fique. Mexer é estragar.

Frida é gulosa e não vai em modas. Prefiro as clássicas: com creme de pasteleiro, pois Bola sem creme é como pãozinho sem sal. E cheias de açúcar por fora. Ahhh, como é bom uma Bola de Berlim depois de um mergulho, a boca cheia de açúcar e a mão que não tem areia a tentar manter o creme no lugar.

Frida é gulosa, repito. É igualmente curiosa. Vai daí fui pesquisar o porquê de se chamar Bola de Berlim a uma bola de massa frita, passada por açúcar, que é cortada ao meio e recheada.

Encontrei duas verões da história e deixo ao critério do leitor acreditar na que mais lhe convier.

Versão A:

No século XIV houve uma padeira que se tornou famosa por, dizem, ter dado conta de uma meia dúzia de espanhóis com a sua pá e deter corrido com eles a sete pés. Falo da Padeira de Aljubarrota, obviamente. Ora, a dita padeira, pelos vistos, também era pasteleira, e para o aniversário de D. João I inventou estes bolos que, num primeiro momento tiveram o nome de Bolas de Faro, já que a padeira era algarvia. Muitos anos mais tarde é que o bolo se passou a chamar Bola de Berlim.

Versão B:

Diz-se que a receita viajou da Alemanha para Portugal durante a Segunda Guerra Mundial e que foi trazida por judeus que fugiam às atrocidades de Hitler. A receita original era recheada com uma compota de frutos vermelhos, a qual foi substituída por um tradicional creme de ovos. Rapidamente se tornou um sucesso de vendas, mas é na praia que elas têm maior expressão. Porquê? Não se sabe!

Versão A? ou Versão B? Qualquer que seja a verdadeira, o certo é que são vendidas cerca de 250.000 (duzentas e cinquenta mil, para que não haja dúvidas com os zeros) Bolas de Berlim, por dia, durante o Verão nas praias portuguesas.

Agora vou dar um mergulho e já volto. Não tarda nada passa por aqui o homem das Bolas de Berlim e eu não o posso perder. Afinal, Frida é gulosa!

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