Anthony Bourdain

Gungunhana gosta de viajar. Aliás, se lhe pedissem para descrever um inferno provavelmente diria qualquer coisa como "inferno é viver num mundo em que não pode viajar, ou pelo menos, que apenas se pode fazer com a devida autorização de uma autoridade qualquer".

Também gosta de pessoas que viajam, pois estas, de um modo ou outro revelam curiosidade sobre a realidade humana e social para além daquela que os rodeia.

Por fim, sempre achou piada a Anthony Bourdain, à sua postura irreverente e muito pouco pretensiosa muito embora nunca tivesse muito saco (como dizem os brasileiros) para vedetas da alta cozinha. Seja como for, Gungunhana encomendou um dos seus livros, o World Travel, em versão original pois assim consegue-se percepcionar melhor certas nuances da vivência de Tony, tal como lhe chama Laurie Woolever, co-autor do mesmo livro. Na realidade, as ideias que os levaram a editar este livro foram, essencialmente, as mesmas que levaram Gungunhana, juntamente com Lucrécia – non quite Borgia, a iniciar este blogue, ao qual se juntou, em momento posterior Frida – a das Flores, sem Khalo, ou seja, gostam de comer e de viajar.

Assim, encomendou o livro online, através de uma livraria no Reino Unido, não desconfiando que, o facto de este já não pertencer à União Europeia faria com que a sua chegada a minha casa demorasse tanto como ler os três volumes do Guerra e Paz na sua versão original por alguém que não fala russo, mas enfim. Depois de uma longa espera, lá chegou.

A primeira percepção que se retira é que a dupla correu meio mundo sem propriamente outros critérios que não fosse a genuinidade dos restaurantes onde comiam, sendo que, em Lisboa, fizeram-se acompanhar por Tó Trips e Pedro Gonçalves dos Dead Combo, os quais os levaram ao Ramiro, na Almirante Reis (e que, no livro está escrito “Alimante Reis”) e ao “Sol e Pesca” no Cais do Sodré, descrevendo este como um local frequentado por prostitutas com mau tratamento dentário. Gungunhana conhece ambos os locais sendo que após a visita de Anthony Bourdain ao Ramiro, este ficou com filas de espera inexplicáveis pois, apesar de se comer bom marisco por lá, existem outros locais igualmente interessantes. Quanto ao “Sol e Pesca”, na presente data, é um bar muito fixe mas é duvidoso que se consiga tomar uma refeição em condições.

É pena que Anthony Bourdain já não esteja entre nós pois, caso contrário, talvez pudesse fazer uma segunda edição, actualizada, do World Travel, e talvez este pudesse, quiçá, convidar Gungunhana para o guiar por Lisboa. Sem prejuízo da falta de autenticidade da grande maioria dos restaurantes da Baixa ainda há muitos onde se pode comer um valente cozido à portuguesa a preços acessíveis ou uma chispalhada de eleição.

Seja como for, Lisboa ainda se lembra dele, e nós também.  

Com saudade.

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