O Natal é quando uma nação quiser
Quando, finalmente, pousei os talheres para por fim à comezaina que teve início no dia 24, e que só terminou ontem, eis que me bate à porta a minha vizinha do quinto andar. Num português arranhado de quem não é de cá mas que se esforçou bastante para aprender a nossa língua e com um sorriso feliz diz-me: "Vizinha, meus pais já estão cá e queremos convidar para passar com nós o Natal."
Fiquei um pouco baralhada. O Natal já passou...
"Nosso Natal é em dia 6 de Janeiro à noite." - diz-me - " e queremos que venha nossa casa."
Ahhh, não é já de seguida. Tenho uns dias para dar descanso ao fígado. Disse-lhe que sim e que na véspera acertaríamos os detalhes. Não será preciso levar nada, pois não faltará nem comida nem bebida.
Vieram da Ucrânia há uns anos, mudaram-se aqui para o prédio antes da guerra rebentar e, desde então, temos vindo a travar aquilo a que posso chamar de uma amizade multicultural. O que eu não estava à espera, era de um convite desta dimensão. Lamentam o estado em que o país se encontra, mas querem celebrar o facto de estarem aqui e em paz.
Já no sofá, chamei pelo Google para tentar perceber um pouco da tradição Ucraniana.
Os presentes são distribuídos a 19 de Dezembro, aquando da chegada de São Nicolau. A ceia, denominada de Sviaty Vetchir (noite santa) acontece no dia 6 de Janeiro, assim que aparece a primeira estrela no escuro do céu. E que ceia!!!! Vou jejuar até esse dia. Se com o bacalhau, o peru e as rabanadas saímos da mesa de gatas, não quero imaginar ao fim de DOZE pratos diferentes.
DOZE!!! O número é simbólico e representa os doze apóstolos de Jesus Cristo. Entre doces e salgados, muitos destes pratos são cozinhados à base de vegetais, peixe e cogumelos.
Começamos bem: com um doce. É que Frida é gulosa!
"Kutiá" é o primeiro, e mais importante, prato, a ser servido e é feito com apenas dois ingredientes: trigo cozido - símbolo da riqueza - e mel - símbolo da felicidade. Também integram nozes e sementes de papoila. O kutiá é, obrigatoriamente, servido pela pessoa mais velha da família.
O repasto continua do dia seguinte - o Dia de Natal - com o que sobrou da ceia, sem que a mesa tenha sido levantada, em homenagem aos que já partiram.
Dada a variedade de comida, presumo que a ceia apenas termine de madrugada. A minha sorte é que vivo dois andares abaixo e é mais fácil rebolar do que escalar!
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