O mar lá longe

Desde que Frida descobriu que o Algarve não era apenas Agosto, praia, peixe e marisco ruma ao Sul, sempre que pode, e fica-se por lá a usufruir de dias sem fim, a descobrir e a saborear as maravilhas que o interior sugere.  O tempo estava bom e, antes que a tempestade Louis assolasse o país, fez-se à estrada e parou no ponto mais alto da região algarvia, a Fóia, um pouco acima de Monchique.

Ali de cima até parece que se está no topo do mundo, ou pelo menos daquele mundo com vista para o vasto oceano que a tão longe nos levaria em tempos já idos. Em dias claros, quase de certeza, é possível avistar Marrocos!!!

A serra é bonita. As gentes são simpáticas. A estrada é excelente, mas barriga vazia não aprecia o que a rodeia. É assim. Já se sabe: Frida gosta de comer e é gulosa!

Ao longo das curvas que contornam a serra até chegar ao topo são dezenas, os restaurantes que ladeiam uma e outra beira do caminho. Há nomes sugestivos. Há nomes normais. Há nomes mais modernos que sugerem algo que não não sei bem se é o que queria, pois um lugar como este pede comida de conforto, caseira, saborosa e que me faça querer regressar. 

Perto da hora de almoço, pelos carros estacionados ao longo da estrada é fácil adivinhar que não será fácil conseguir uma mesa onde quer que seja. Ainda bem que antes de partir para baixo reservei mesa num lugar recomendado por amigos que há muito são frequentadores da zona! O nome do restaurante? Sugestivo, pelo menos: Paraíso da Montanha e existe há mais de 50 anos. 

Estacionei na rampa de acesso, entrei e sentei-me. Ainda não tinha muita gente, mas havia em todas as mesas uma daquelas placas de metal em que a palavra "reservado" se lê na transparência das letras recortadas. Não foi por muito tempo. Logo depois a sala começou a encher-se, especialmente de famílias que, pelo modo como tratavam quem andava a servir, seriam clientes habituais. 

Quis saber um pouco sobre a história do local e foi-me dito que o Paraíso da Montanha está na mesma família desde o dia em que abriu as portas pela primeira vez. O primeiro proprietário, o Sr José João, já faleceu e quem se encontra no comando das operações é o filho, rodeado de mais familiares: mulher, cunhada, filha, genro. Confesso: senti-me em casa e quase a fazer parte daquele clã sempre de sorriso no rosto.

Andemos que se faz tarde. Venha o menu, que a barriguinha já chora.

Queijo fresco de cabra de uma queijaria local. Presunto de Monchique. Pão caseiro. Ensopado de cabrito e, por que não, vinho? Venha tudo! Ah, pedi também uma salada, só para dar um ar mais verde à refeição e não me sentir tão culpada. Não quero correr o risco de, no regresso, não caber na moldura.

O serviço é rápido e a comida era mesmo o que estava a precisar! O perfume que saiu da caçarola de grés abriu-me ainda mais o apetite e depois da primeira garfada fiquei em êxtase. Que delícia! Que maravilha! Que perfeição!

No final trouxeram-me a carta das sobremesas. No meio de tanta coisa boa, algo não estava mencionado. Afinal, o melhor está sempre guardado. Venha de lá a tarde de batata doce - de Aljezur, claro - com aguardente de medronho - de Monchique.

Minha Nossa Senhora dos Pinceis e dos Autorretratos!!! Se esta tarte não é apoteótica, então não sei o que mais será. 

Deixem lá passar a tempestade que logo vos digo onde venho novamente!

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